Bittersweet

Hoje lembro-me do teu sorriso.
Hoje lembro-me do nosso primeiro beijo - como se tivesse sido o meu primeiro beijo - sinto o sabor dos teus lábios, o calor do teu corpo e o odor frutado que emana da tua aura.
Terá alguma vez existido este momento ? - sem dúvida que sim, sem dúvida...

Hoje lembro-me das tuas palavras.
O som melodioso das sílabas ondulantes e o riso de um anjo que desceu para me ocultar a dor da distância.
A música, tão grandiosa ou simplesmente ritmada para momentos fugazes, momentos e instantes que duram uma vida inteira. Será que só dura porque nunca nos deviamos ter separado ? - ou será apenas a memória do que não consegui alcançar porque não estava ao meu alcance ?

Dúvidas...

Hoje lembro-me do teu olhar.
Os olhos brilhantes e profundos - que pena não o serem por mim - que distância tão irrelevante que me perdi no navegar.
Olhos serenos e sábios, só porque me encontraste no caminho de volta, e sopraste as minhas velas na bolina da tua vida, sábios para além daquilo que é a consciência, para além do bem e do mal, para lá do que sabermos ser certo - sabemos realmente ?

Hoje lembro-me daquela noite, hoje lembro-me daquele dia, hoje lembro-me daquela tarde, hoje recordo a minha vida contigo ou sem ti.

Hoje recordo a brisa do oceano, recordo o azul de um céu que se estendia até outro hemisfério, recordo o tempo sem ter para onde fugir e, no entanto, o chão acabava cedo demais e o espaço acabou cedo demais, as memórias indeléveis e o sentimento de não ter saído do meu pequeno círculo formado pelo raio do meu ser - nem a distância de um palmo - que se perfumou com o teu sorriso, o teu olhar, a tua presença.

E porque me recordo hoje de ti ?
Apenas porque cheirei o teu beijo, ouvi o teu odor, saboreei a tua voz, lembrei o teu rosto - porque forcei-me a recordar.